Ser alternativo é o novo padrão — mas isso é realmente um problema?
Canibalismo como metáfora para o amor, romãs sem sementes, ecobag da MUBI e Deftones no fone. Todo mundo quer ser alternativo.
Há um tempinho atrás, lá pelos meus treze anos, quando eu erradamente usava Tumblr sem supervisão dos meus pais e sonhava em viver uma música da Lana Del Rey me deparei pela primeira vez com o termo “alternativo”. Na época era muito simples: a tag #alternative aesthetic era cheia de gifs preto e branco, letras de músicas melancólicas, coturno com meia arrastão, cenas da série Skins e fotos do Kurt Cobain. Naquele momento eu percebi: mãe, sou alternativa e não é uma fase!
Okay, vou deixar um pouco o sarcasmo de lado…
Se você jogar no Google o que significa ser alternativo a resposta vai ser algo mais ou menos como “aquilo que é diferente, o que é oposto ao usual” e lexicalmente falando está certo. Ser alternativo é, literalmente, não ser o padrão, então como o alternativo em pleno 2025 se tornou padrão?
Antes de tudo, temos que estabelecer um parâmetro nessa história: não estamos lidando com coisas literais, e sim, com sociedade. “Nossa, mas por que você tá falando essa baboseira toda, Maxine?” — Porque, honestamente, quero entender como aquilo que um dia foi motivo de escárnio se tornou um objeto de desejo.
Na verdade, vou ser sincera, tenho alguns palpites. Hoje em dia todo mundo quer ser diferente. Cada pessoa tem em si uma vontade completamente estarrecedora de ser extraordinário, de ser visto, de deixar uma marca, de ser um influenciador, mesmo que não seja literalmente fazendo stories no Instagram. A necessidade de ser “cool” é muito maior do que a necessidade de ser, por exemplo, atraente, e isso faz com que todo mundo seja igual.
No título eu fiz uma pergunta tendenciosa — “será que isso é um problema?”
O alternativo ser o novo padrão não é um problema, ele apenas é o sintoma. A padronização da individualidade é apenas a evidência de que o conceito de identidade é o produto da (referenciando ao gênio Guy Debord) sociedade do espetáculo, ele é o sintoma de uma geração que não quer ser necessariamente “cool”, ela quer se sentir “cool” e na maior parte do tempo nem percebe, e cada vez mais vemos pessoas atribuindo a si conceitos e subculturas enquanto outras se desesperam pra dizer “você não é alternativo de verdade”.
O ser alternativo, o ser gótico, o ser punk, o ser grunge (e sinta-se livre para pensar em qualquer outra subcultura marginalizada socialmente) se tornou um produto da própria necessidade de ser ouvido. É o exemplo maior de uma geração resignada com os problemas sócio-econômico-culturais frustrada com as tentativas sufocadas de ser revolucionária. Eu cresci acreditando que seríamos mais como os personagens que crescemos lendo, mas hoje em dia todo mundo só quer fazer uma review engraçadinha no Letterboxd ou uma tatuagem com frase mal traduzida em inglês apropriada de uma cultura que sequer lhe pertence.
Ninguém quer passar pelas inconveniências de ser alternativo (vamos ser honestos, eu posso listar quantas vezes me olham torto só por causa da minha roupa preta e acessórios exagerados), mas todo mundo ainda quer ser lembrado. Ser chamado de padrão ofende.
Mas, apesar de tudo, ainda não acredito que a autenticidade pode ser comprada. Você pode até gostar de coisas que já se tornaram o novo padrão, isso nunca será um problema, mas aquilo que é genuinamente apreciado sempre vai se destacar mais do que aquilo que só é usado para ser mais um mostruário.